fotografia da Irmã Elodie a apanhar limões

Irmã Elodie

Uma palavra para as jovens e as menos jovens de hoje

Tornei-me fã da querida irmã Elodie pelo Instagram, segui-a com olhar atento, agora cativou-me com as suas palavras e não podia deixar de as partilhar com todas vocês. 

Deixem-se levar, abram os vossos corações e sintam este testemunho, tão real, tão próximo, deste amor que tu também podes sentir.

Eu apaixonei-me por cada palavra, por cada descrição das ações de Jesus na vida desta Irmã, sei que também outras irmãs deste grupo sentiram o mesmo, apaixonando-se por este testemunho. Permite-te também tu seres transformada!

Deixamos aqui o seu testemunho:

Eu sou a Irmã Elodie, da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria. E, é com muita alegria que partilho convosco uma parte da minha caminhada pessoal.

Sou filha de pais portugueses, que cedo emigraram para França, onde nasci e iniciei minha vida sacramental. Voltámos para Portugal quando eu tinha 10 anos.

Para mim é importante começar por dizer-vos que cresci numa família de tradição católica, o que não quer dizer que meus pais fossem “praticantes”. Acreditavam em Deus, mas não iam à Eucaristia, nem pertenciam a nenhum movimento ou comunidade paroquial.

Minha avó materna era uma mulher de fé, que no silêncio ia rezando pela conversão do meu avô e de toda a minha família. Muitos anos mais tarde, a conversão do meu avô veio a acontecer e com ela, a dos meus pais, cada um segundo o seu ritmo. 

Apesar de, na altura, eu não estar inserida em nenhuma comunidade paroquial, desde cedo iniciei-me na vida de oração. Oração que, para mim, resumia-se em conversar com Jesus, usando a minha imaginação para vê-Lo diante de mim. Éramos grandes amigos de longas conversas.

Foi aos meus 14 anos, altura em que o processo de conversão da minha mãe acontecia, que senti pela primeira vez, a intuição de que a minha vida haveria de ser somente para Deus. Lembro-me de estar na casa da minha avó paterna e de ter ido dizer à minha mãe. Na altura não me recordo qual foi a sua reacção. 

Podem calcular que aos 14 anos, ainda é muito cedo para tomar uma decisão plenamente consciente. Deus manifesta-se na medida da nossa maturidade psicológica, espiritual e biológica. Posso dizer que aí Deus tocou o meu coração a partir de um sentir interior, de uma moção interior. Mas, ao longo da minha caminhada, Ele foi-me chamando também a partir de acontecimentos exteriores concretos. Porque não se trata de uma “voz” que vem de uma nuvem, o nosso Deus é um Deus que gosta de mandar-nos notificações ao longo dos nossos dias. É preciso não bloquear ou silenciar essas notificações. 

Mas posso dizer que foi uma luta, porque à medida que fui crescendo surgiram sonhos, desejos dentro de mim. Apaixonei-me, fui à universidade, viajei, tive um relacionamento sério com quem pensava casar, tive uma grande depressão, afastei-me de Deus. A minha vontade nem sempre correspondeu à de Deus e isso tornava-me infeliz.

A felicidade é um saber que estamos no nosso lugar, mesmo se há dificuldades, sabemos o sentido da nossa existência e sabemos para quem fomos criados. Eu não sabia, ou melho, eu não queria saber e durante algum tempo busquei noutros lugares a felicidade que estava naquilo que Deus me propunha. 

A minha reaproximação de Deus e da Igreja aconteceu aos meus 19/20 anos, com a morte do meu avô materno. Minha mãe, que já estava ativamente inserida na Igreja, convenceu-me a ir à Missa todos os Domingos, sob o pretexto desta ser celebrada pelo eterno descanso do meu avô. E assim fui apanhada, sem estar à espera, porque foi aí que conheci as pessoas que pertenciam ao Renovamento Carismático, ao qual minha mãe pertencia. 

Um dia, minha mãe convidou-me a fazer uma caminhada até Fátima com o Renovamento e eu aceitei. Eu não cheguei até ao fim, mas não era isso que importava. O que Deus queria era levar-me ao Renovamento e isso Ele conseguiu, porque nessa caminhada fizeram-me o convite para participar dos encontros semanais na Paróquia e eu aceitei. Todo aquele acolhimento e simplicidade tocou-me bastante e senti-me em casa. 

A Paróquia e seus movimentos tiveram uma grande importância na minha reaproximação à Igreja. Foram pessoas, situações e experiências concretas que me mostraram onde Deus me queria levar. 

Com a minha entrada no Renovamento, minha forma de ver a vida foi mudando pouco a pouco e isso curou-me da depressão, pois eu tinha descoberto o Amor de Deus e o sentido que isso dava à minha existência. Foi nessa altura, que voltei a sentir-me chamada a viver totalmente para Deus, mas eu namorava, então na minha cabeça tudo estava confuso. 

Fui falar com um Sacerdote, mas ele relativizou a situação e eu acabei por continuar a não querer ouvir.

Para além do Renovamento, entrei para a Juventude Mariana Vicentina e aí pude viver a minha fé com outros jovens da minha idade. Foi justamente ao regressar de uma das nossas actividades que, interiormente, decidi dar espaço para essa voz que me falava nos acontecimentos e naquilo que eu sentia. 

Eu já tinha terminado o relacionamento em que estava, por ter percebido que a minha realização enquanto pessoa não passava por aí. Foi um dos momentos mais difíceis, sofri muito porque gostava do rapaz e gostar de alguém é algo bom. Mas, quando falamos em felicidade plena, isso pede-nos algo mais do que simplesmente gostar. Eu sentia que em mim havia um amor que não podia ficar somente para uma pequena família. Eu tinha de ser unicamente de Jesus, para poder viver e dar esse amor que eu sentia em mim. 

Então, quando interiormente fiz o propósito de parar de fugir e escutar aquilo que eu sentia como apelo, a minha vida começou a fluir. Foi como se de repente todos os acontecimentos me levassem a encontrar-me com a Apresentação de Maria. 

É importante referir que procurei e conheci outras congregações, mas foi a Apresentação de Maria que me cativou. Aquilo que me atraiu, inicialmente, foi a forma simples e alegre de ser das irmãs. Depois quando conheci a vida de Maria Rivier (minha fundadora) fiquei apanhada por esta mulher de 1,32 metros de altura, que no tempo da Revolução Francesa abre um convento e várias escolas. Só uma pessoa completamente entregue a Jesus Cristo poderia fazer algo assim. 

Comecei a fazer uma caminhada de discernimento com as irmãs e aí fui percebendo que o meu caminho de felicidade/santidade era aqui na Apresentação. Podem perguntar-me: mas como se percebe isso? Há uma identificação entre o que sou e a proposta de vida que se me apresenta; há uma moção interior que me diz: finalmente encontraste o teu lugar; há um crescimento que acontece e que faz com que o melhor de mim saia para fora e há uma felicidade que vai crescendo pouco a pouco, porque a minha vida ganha sentido. 

Isso não quer dizer que não tive ou não tenho dificuldades, essas são parte inerente da condição humana. A diferença está em olhar as dificuldades, dúvidas e sofrimentos como fazendo parte desse caminho, rumo a uma maior identificação com Cristo. Dizer sim à vocação à qual o Senhor me chamou, foi dizer sim a uma maior identificação com Ele, a partir daquilo que sou e foi dizer sim à santidade/felicidade que Deus reserva para mim. Porque santidade e felicidade estão de mãos dadas. 

O sim que dei, é um sim que se renova todos os dias. Porque há vários pequenos “sins” e “nãos” que devemos dar continuamente, seja qual for a nossa vocação, para poder dar corpo a esse grande sim. Imaginemos um casal que acaba de ter um filho, certamente que verá a sua rotina alterada em função dos cuidados que deve dar ao seu filho. Isso faz dessas pessoas menos pessoas só porque não podem fazer tudo o que gostariam? Não! Assim acontece com a minha própria rotina, que também sofreu alterações em função desse amor a que fui chamada a viver. Porque as escolhas que fiz foram por amor, por um grande amor. 

Estou na congregação há 13 anos e fiz os meus votos perpétuos há 1 ano. Todo este tempo que a Igreja e a congregação dá aos religiosos antes de fazerem os votos perpétuos, é um tempo de contínuo discernimento para amadurecer e confirmar a escolha a que nos sentimos chamados. Como o tempo de namoro, antes do casamento. Durante esse tempo, fui acompanhada por uma Irmã formada para essa missão, tive momentos de formação que me permitiram ter um maior conhecimento de mim e da minha Congregação. 

Para além da formação religiosa, humana e espiritual, há também a formação académica. Sou licenciada em Educação Social. A formação académica é importante na medida em que nos ajuda a melhor responder à missão que desempenhamos. 

Durante 6 anos fui educadora de um núcleo familiar num Lar de Infância e Juventude onde acolhemos crianças e jovens que chegam até nós através da CPCJ ou do tribunal. Eu vivia com essas crianças e jovens 24 sobre 24 horas. Foi uma missão que me fez crescer muito enquanto pessoa, mulher e religiosa.  

Neste momento a minha missão é estar ao serviço da pastoral juvenil e vocacional da minha congregação. Uma missão de proximidade e de acompanhamento à juventude, ao jeito de Jesus que se fazia próximo para poder acompanhar o sofrimento do povo, do seu tempo. 

A missão das irmãs da Apresentação de Maria é a educação cristã da juventude e a compaixão que se manifesta nos cuidados de saúde que algumas das nossas irmãs enfermeiras prestam. Temos, também, uma particular atenção pelos pobres, podendo esta atenção expressar-se em visitas e cuidados prestados a idosos, emigrantes, presos, crianças oriundas de famílias desestruturadas. 

Mas, é importante dizer que a nossa missão não é um simples voluntarismo, ela parte da nossa relação com Jesus, deste encontro onde nos sentimos amadas por Ele brota o desejo de partilharmos com os nossos irmãos esse amor recebido.  

Para terminar, queria somente dizer que, de facto, ser chamada para a Vida Religiosa foi a grande surpresa e a grande prenda que o Senhor me deu. Tenho ainda poucos anos disto, mas já vi Deus fazer tanta coisa, em mim e nos outros, através do meu sim, que sou habitada por um grande sentimento de gratidão, porque olhou para a sua humilde serva e teve misericórdia. 

Ir. Elodie Filipe pm

Nota: Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

1 comentário

Deixar um comentário