Direitos que tomamos como adquiridos

Foto de Yannis H na Unsplash

Levamos a nossa vida sempre preocupados com o que ainda não temos, o sonho que ainda não alcançámos, preocupados com a nossa pequena realidade quotidiana. Já pararam para pensar nos direitos que temos como garantidos no nosso dia-a-dia e que se tornaram tão mundanos e banais como se fossem tão certos como o ar que respiramos?

Hoje acordamos de manhã na nossa cama quentinha, no conforto da nossa casa, escolhemos o que queremos comer dentro da oferta que temos em casa ou vamos comer fora quando nos apetece algo diferente. Escolhemos a roupa que nos apetece vestir, indecisos entre as cores e o look que hoje se identifica mais com o nosso estado de espírito. Já pensaram que noutros lugares do mundo, milhares de pessoas dormiram numa esteira no chão, sem mantas ou cobertores, acordando sem nada para comer, sem roupa para mudar ou escolher, a viverem em casas ou situações sem dignidade? Alguém pára, todos os dias, 5 segundos para agradecer as graças que tem? 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos no artigo 25º refere: “1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica…”  – Porque continuamos a acumular riquezas e bens e não ajudamos quem está perto de nós, mais distante ou noutro país, que necessita desses mesmos bens, bem mais do que nós?

Hoje somos livres de tomar as nossas decisões, fazer escolhas e de viver sem medo. Temos direito à vida, à liberdade e de lutar por aquilo em que acreditamos. Mas há também quem,  pela sua mesquinhez ou sede de poder, massacre, tire vidas e torture populações inteiras. Há quem sofra enquanto o resto do mundo continua o seu dia-a-dia. Quando acordaram hoje, agradeceram terem nascido num país livre, onde os nossos direitos são respeitados e podemos andar livremente pela rua?

O artigo 3º da Declaração dos Direitos Humanos refere: “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança”. Por que razão só se beneficia deste direito em certos países? Que fazemos para mudar esta realidade?

Estamos em pleno mês de Setembro, todas as famílias estão preocupadas com a compra dos livros, ou o levantamento dos mesmos, em comprar uma mochila nova, um novo estojo, cadernos com desenhos ao gosto dos mais pequenos, uma lancheira cativante. Já pensaram que noutro lugar do planeta há crianças proibidas de estudar, que não podem sair de casa, crianças que vivem numa comunidade tão pobre que nem sequer tem escolas, crianças tão pobres que as famílias não lhes podem proporcionar educação. Andamos aqui preocupados com consumismo, enquanto noutro lado do mundo só gostariam de poder aprender a ler a escrever. Há crianças pobres que a sede de aprender é tão grande, que mesmo sem luz, estudam às escuras, com o seu lápis já muito pequenino e o seu caderno já gasto. Já contribuíram este mês, para alguma associação de forma a poder proporcionar o direito à educação a outras crianças que não têm a mesma sorte que as nossas?

Artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório…” – Afinal não é um direito elementar para todas as crianças, apenas para algumas?  Malala Yousafzai, jovem ativista paquistanesa, luta para que todas as crianças tenham o direito à educação e defende esta como a melhor arma para terminar com o terrorismo no mundo e mudar mentalidades.

Temos o direito de tomar as nossas decisões sobre o caminho da nossa vida. Hoje, já agradeceram por isso? Pela liberdade e paz que temos? Ao mesmo tempo, noutro lugar do nosso planeta, há pessoas a serem presas, torturadas e mortas, porque falaram ou tentaram lutar por algo em que acreditam. Há pessoas que são vendidas como escravas sem terem direito ao comando da sua vida. Há mulheres que são torturadas e mutiladas, tratadas como seres sem dignidade, direitos ou sentimentos. Somos tão privilegiados, exigimos tanto das nossas vidas e nem agradecemos a benção de vida que temos.

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, refere-se que : “Artigo 4º – Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.”  – Lemos bem, ambos os artigos dizem “ninguém será mantido, ninguém será submetido”… Se é “ninguém”, porque ainda temos seres humanos, pessoas como nós, que não têm voz ou alguém que lute por eles, que ainda passam por situações horrorosas e revoltantes como estas? Somos mesmo abençoados com o cantinho em que nascemos…

Os direitos conquistados tornam-se erradamente banais na nossa vida, que nem paramos para pensar que há muita desigualdade entre países e regiões. Longe da vista, longe do coração, como se costuma dizer. 

Agradeçamos ao nosso Pai, por todas as bençãos que temos na nossa vida e que, falsamente, pensamos que são garantidas. Peçamos por todos aqueles que não têm a mesma oportunidade que nós, de ter nascido num país sem guerra ou numa família com amor. Além de rezar, tentemos fazer a diferença na vida de alguém, através dos dons e bens que temos a graça de ter recebido. Ajudemos alguma ou algumas associações, de forma simples, para fazer a diferença na vida de alguém.

Há diferentes associações ou organizações com diferentes propósitos, para podermos ajudar e contribuir:

– Associações que recebem roupa e calçado que já não nos serve ou já não vestimos;
– Associações que recolhem móveis e eletrodomésticos que já não gostamos;
– Associações que ajudam com bens alimentares, com cabazes ou refeições;
– Associações que enviam medicamentos ou material escolar para outros lugares do planeta;
– Associações onde podemos tornar-nos padrinhos/madrinhas de uma criança e contribuir, mensalmente, com um pequeno valor de forma a proporcionar àquela criança educação, roupa e alimento;
– Associações que lutam por salvar crianças que foram sequestradas ou mutiladas;
– Entre tantas outras….

Qualquer gesto por pequeno que seja faz a diferença na vida de alguém. E se a nossa próxima prenda para alguém for uma contribuição à UNICEF ou outras associações, em nome dessa pessoa? Que sensação maravilhosa que o aniversariante vai ter! Já recebi, numa troca de prendas do trabalho, um vale que representava o envio de 100 doses da vacina contra o tétano. Partilho o site para que possam dar uma vista de olhos: https://presentesparaavida.unicef.pt/todos-os-produtos/ 

Mudemos o mundo a cada gesto, porque cada gesto conta, cada gesto é partilhar amor com o próximo. 

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