Ter riquezas, para uma grande parte da população, será ter uma poupança de quantia elevada no banco, uma casa grande e luxuosa, um carro topo de gama parado à porta, roupa e calçado de marca e uma profissão com um salário elevado. Para muitos que lêem este artigo, se calhar só assim se sentem felizes e realizados. Todos nos sentiremos bem se conseguirmos alcançar estas pequenas coisas, mas a verdadeira riqueza são as pessoas.
Na minha vida são os meus avós, a minha família, os meus pais – estes sim, ocupam um lugar importante.
Os meus avós foram e são muito importantes na minha vida por tudo o que me ensinaram, por todo o amor que me passaram, por todas as histórias que me contaram, por serem um exemplo de força, positividade, alegria e amor. A minha vida não teria sido a mesma se eles não fizessem parte dela.
Quem teve a graça de ter avós presentes e próximos na sua vida irá, de certeza, identificar-se com as minhas memórias e te-las-á também para partilhar.
Desde pequena que as férias e fins-de-semana sempre foram a rumar para a casa da avó Ana e do avô Manuel. Que ansiedade no caminho, que vontade sempre de chegar lá e de lhes dar um abraço forte. O abraço dos avós é sempre tão mágico e cheio de amor! Contém tanta doçura e ternura no olhar… Quando nos abraçam o mundo inteiro ganha uma paz e uma cor inexplicáveis!
Sempre gostei de ouvir as suas histórias de vidas, de muitas lutas, conquistas, sorrisos e dureza. Ensinaram-me que nada se conquista sem amor e paciência, sem luta, sem nos esforçarmos muito pelo objetivo que queremos alcançar e se cairmos, ou as coisas não correrem como desejamos, reerguemo-nos e continuamos a lutar, com a força do Alentejo que nos corre nas veias.
Nas noites quentes de verão, ouvir sentados, na rua, as histórias que o meu avô conta tendo sempre animais como personagens – ou não fosse ele pastor – as anedotas e as adivinhas. E o Cante? Adoro ouvir os meus avôs cantar. Quantos sorrisos e gargalhadas damos nessas noites.
Recordo com carinho as imensas tardes que passava a pastar as suas ovelhas, no meio do campo, com o lanche e a garrafa de água. Conversávamos e riamos tanto… Guardo tudo no coração.
Com eles aprendi a ajudar os outros: partilhar o pouco que temos com quem mais precisa.
E os miminhos da avó? Os pequenos-almoços, sempre deliciosos, com as tortas e as popias (bolos regionais) ou o bolo de laranja que só a minha avó sabe fazer. Também os almoços eram maravilhosos. E tantos jantares de feijão que ela nos fazia! Um fim-de-semana na casa dos avós era mais 3 quilos na balança, de certeza. Por mais que prove noutros lugares ou tente fazer em casa, nunca fica igual à receita da minha avó. O carinho que ela põe a cozinhar torna o sabor inigualável. Ainda hoje o coração vem sempre cheio e feliz, de conversar e desabafar, de ouvir os seus conselhos sábios, fruto de uma vida longa e cheia de sabedoria.
Sortudo de quem tem esta maior riqueza na vida e que pode aproveitar tudo o que de bom temos a ganhar, um amor imenso, muita sabedoria, bons conselhos, fortaleza e suporte.
Já pensaram nas vezes que podiam ter aproveitado mais? Que podiam ter dedicado a conversar e a ouvir os vossos avós? A mimá-los? Perdemos tempo com tanta coisa efémera e sem importância em vez de dedicarmos tempo e dar amor à nossa família.
Para quem ainda tem esta riqueza na sua vida fica o conselho: dediquem hoje (e daqui para a frente) mais tempo a dar mais amor, mais sorrisos, mais abraços, mais carinho, pois a verdadeira riqueza não se compra. O amor é gratuito e está disponível na medida que estivermos disponíveis para dar aos outros. Se derem muito amor receberão, certamente, em troca muito amor.
O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. […]
(1 Cor 13: 4-8)
Aproveitem o dia de hoje, Dia dos Avós, para rezar pelos vossos, os que estão presentes e os que já partiram que cremos que, do céu, oram por nós.
… Por vezes, só lhes damos valor quando já não os temos ao nosso lado…
Cristina: só agora vim aqui, tão atrasada! Gostei muitíssimo de ler o que escreveste com tanta minúcia, reveladora de um grande espírito de observação. E não só: com o coração a transbordar de Amor.
Quanta sensibilidade e ternura revelas no teu texto! Fizeste-me lembrar da minha única avó que conheci e que partiu há tanto tempo. Que saudosa recordação!