Malala, a voz das raparigas de todo o mundo

World Bank Photo Collection
Malala Yousafzai discursa na sede do Banco Mundial no Dia Internacional da Menina, 11 de outubro 2013
Foto: Ryan Rayburn/World Bank

Uma pessoa simples, pequena, pode mudar o mundo e a sua voz pode ser fonte de inspiração e de força para ajudar a tornar o mundo um lugar melhor, onde todos somos tratados da mesma forma, como iguais. 

Malala Yousafzai nasceu na cidade de Mingora, no Vale de Swat, ao norte do Paquistão, em Julho de 1997. Esta região é conhecida como a “Suíça do Paquistão”, uma região que tinha muito turismo devido às grandes montanhas e à neve no inverno. O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, era dono de uma escola de raparigas e Malala era uma rapariga que gostava muito de estudar e ir à escola. Quando fosse grande não queria ficar sentada entre quatro paredes, ambicionava para si um futuro diferente das mulheres da sua cultura. 

Entre 2007 e 2009 os talibãs iniciaram uma onda de terror na região. Através dos livros sagrados religiosos islâmicos, o Alcorão e a Suna, os talibãs afirmam o que é proibido e o que é permitido. Muitas mulheres foram mortas ou chicoteadas por não cumprirem a sua lei, segundo os talibãs. Fecharam e bombardearam muitas escolas para raparigas. O regime ordenava às mulheres que não saíssem de casa, levando a que muitas raparigas desistissem de estudar e muitas famílias fugissem da região. As poucas raparigas que continuaram a estudar tinham de esconder os uniformes escolares e os livros, para que não as identificassem. As mulheres e raparigas passaram a ser obrigadas a andar de burca, cobrindo todo o corpo, o que segundo Malala escreveu “torna o ato de andar difícil”.

Em 2009 Malala começou a escrever para a BBC, a pedido deste canal, com o pseudônimo de Gul Makai (nome de uma heroína do folclore local), sobre a vida na região sob o domínio dos talibãs. Posteriormente, apareceu num documentário onde defendia o direito das raparigas à educação, o que a tornou conhecida. Infelizmente, a defesa do direito à educação tornou Malala um alvo para os talibãs.

Entre 2009 a 2012 ocorreram tréguas nos conflitos na região, o que levou a que muitas famílias, incluíndo a de Malala, retornassem à região e que muitas raparigas pudessem voltar a estudar. Nestes anos, a identidade da rapariga que escrevia para a BBC foi descoberta, o que levou a que Malala se tornasse conhecida na imprensa, dando entrevistas e fazendo discursos sobre o direito das mulheres à educação. Infelizmente, apesar de poder difundir a sua voz, Malala e a sua família passaram a receber ameaças. Em Outubro de 2012, um talibã interceptou o autocarro onde seguia um grupo de raparigas que iam para a escola e perguntou: “Quem é a Malala?” –  disparou e atingiu Malala com um tiro na cabeça e feriu também duas outras raparigas.

Malala teve de realizar várias cirurgias no Paquistão, sendo posteriormente levada para continuar os seus tratamentos em Inglaterra, teve alta apenas em Janeiro de 2013.  Ficou a residir com a sua família em Inglaterra onde teve a possibilidade de continuar os seus estudos e criou um fundo para apoiar o estudo de meninas em todo o mundo.

Todo este cenário de terror levou a que Malala fosse reconhecida tendo recebido um Prémio Nobel da Paz em 2014. Nesse mesmo ano Malala escreve a sua autobiografia onde partilha com o mundo a sua história de luta pelo direito à educação das raparigas.  Relata no seu livro uma cultura do medo que estava instalada, onde as mulheres não tinham autorização para viverem sozinhas, apenas com os seus pais, irmãos ou maridos, de forma a que fossem supervisionadas, não tendo direito a trabalhar ou estudar, nem podendo andar sozinhas na rua sob pena de serem torturadas por estarem sem companhia masculina.  Malala refere que “Não há nenhum trecho no Corão que obrigue a mulher a depender do homem. Nenhuma mensagem dos céus estabeleceu que toda mulher deve ouvir um homem”, denunciado uma cultura machista levada ao extremo. 

Partilhamos convosco um dos episódios mais marcantes que relata no seu livro: “Quando cruzamos o desfiladeiro Malakand, vi uma mocinha vendendo laranjas. Para cada laranja que vendia, ela fazia uma marquinha com lápis num pedaço de papel, pois não sabia ler nem escrever. Tirei uma foto e jurei que faria tudo o que estivesse a meu alcance para ajudar a educar garotas como ela.”

Apesar de todo o medo e terror que Malala já viveu na sua curta vida, ela continua muito decidida a lutar pelo direito à educação. Sonha poder regressar ao seu país e entrar para a política, para poder defender os direitos das mulheres. 

Na sua luta pelo direito à educação, numa visita à Casa Branca em Washington, EUA, Malala sugeriu ao presidente Obama que em vez de enviar armas e soldados para o Afeganistão, deveria antes enviar livros, canetas e professores. Defende que a melhor forma de combater o terrorismo é através da educação. 

A sua convicção é tão forte que numa visita à Rainha de Inglaterra, referiu que esperava que ela e a Rainha pudessem trabalhar juntas para que todas as crianças, quer no Afeganistão, quer em Inglaterra, pudessem ir à escola. 

O lema da mensagem que Malala quer passar ao mundo é simples e, no entanto, inovador: “Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo”. 

Saibamos nós ter uma visão clara, simples e lutadora como a Malala, para que possamos juntos garantir os direitos de todas as crianças. Só assim mudaremos o mundo.

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